terça-feira, outubro 19, 2010

Agradecimentos da formatura

Vou postando aqui os agradecimentos, porque há muito o que agradecer e 700 caracteres é ridiculo (apesar de eu mesmo ter estabelecido isso) XD





ESTOU EDITANDO ISSO TODOS OS DIAS


"Amigo? Aí foi isso que eu entendi? Ah não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais. Amigo, para mim, é só isto: a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual, o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou - amigo - é que a gente seja, mas sem precisar saber o por quê é que é."

(João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas)



            À Jesus Cristo, O Cara acima de todos os caras.

            À minha mãe, Ceiça, pelo afeto, exemplo e amizade.

            À meu pai, Zé da Padaria, mecena incondicional, motivo de orgulho.

            Ao meu irmão, Lucas, bróder e parceiro.

            Às minhas madrinhas, vó Lourdes e vó Maria.

            À memória de meu tio João e meus avôs, Pedrão e Custódio. À memória também do meu tio-avô Tatão que deixou tantas saudades.

            A todos os meus familiares consanguíneos (porque pra mim, amigo é família também), em especial:

           Meu Tio Donda, que me ensinou a ler através dos quadrinhos (X-men, Homem Aranha, Batman...), despertou meu interesse pela leitura e me viciou nos jogos eletrônicos que de alguma forma são parte do que eu tenho por identidade.

           Minha Tia Tidinha, que me amamentou e cujos filhos, Henrique, Tiago e Nathan, são os meus primos mais queridos, companheiros mesmo e que, mesmo que eu não esteja presente com eles, tenho uma consideração muito grande.

           Meu tio Márcio e meu tio Tobias, que sempre estiveram tão presentes.
           Meus primos do Rio de Janeiro: Carlitos, sua esposa Jandira e seus filhos Rodrigo e Carolina. Não tem nem explicação o que uma relação de compadres (meu pai e Carlito) é capaz de aproximar.

           Meu primo, também carioca, Douglas Alan.

           Meus tios-avós candangos Luzia, pelo afeto desde que nasci, e Nicanor, pelo exemplo e carinho pelos parentes mineiros. Aos filhos do Tio Nicanor, Gracieth, Macklaine e Gagá, grandes amigos, e a filha da Gracieth, Karoline.

            Aos mestres e amigos, Juarez Dayrell, Mario Fuks e Carlos Ranulfo. Professores que me ensinaram dentro e fora de sala de aula e que me deram oportunidades de tentar desenvolver minhas aptidões e habilidades na universidade e trilhar o tortuoso caminho das Ciências Sociais.

           Aos Huevos: Fegemo, Poser, Cayo, Leite, Paschoal e Tupas. Broders mesmo no sentido mais fóda que essa palavra tiver. Se eu não tivesse entrado no Pitágoras e conhecido vocês há 9 anos atrás, sei lá o que seria de mim agora.
             
           À Mercaptan, meu grupo de RPG que acompanhou desde que eu estava no segundo ano: Elder, Murdock, Cris. E aos novos integrantes: Dani e Chico.

           À amizade - o antológico Balu Mágico: André Drummond, Bruno Malaco, Fabrício Empadinha, Túlio Fleury, Daniel Sloth, Rodrigo Nugget, Alisson, Cobain, e claro, não menos importante, ao Balu. Pessoas da milhooor qualidade, exemplos de profissionais, exímios atletas, enfim, grandes amigos na UFMG.

           À todos os camaradas da FAFICH que foram companheiros de jornada na vida acadêmica e sempre estiveram presentes apoiando de alguma forma(sem ordem específica, porra): Laís Jabace, Zé, Diogo Carioca, Léo, Lívio, Silvio, Ana Luísa, Amanda Horta, Raquel Guilherme, Natália Bueno, Vinícius, Priscila, Cinthia Barros, Marina Brito, Breno Cypriano, Felipe Nunes, Fred,  e (eu vou lembrando e colocando aqui).

          Companheiros do SOL por acreditarem junto comigo em um projeto tão bacana e ajudarem a concretizá-lo na luta do dia-a-dia: Laís, Luiz, Ícaro, Isabela, Ana Amélia, P.A., Leo Taveira, Priscila, Denise, Paula e tantos outros.

           Amigos da Gestão Equilíbrio que dividiram momentos de tensão e alegria no CACS entre 2007-2008, entre processo de matrícula, cursos de metodologia, semana de Ciências Sociais, movimentos contra truculência na UFMG, REUNI, reuniões secretas varando as noites e nos finais de semana para decidir as coisas. Levo vocês comigo: Helga sempre amável, Luís Chefe, Bruno Jesus, Roberto, Alice, Malu, Aninha, Analice e Nayara.

          À atual gestão do CACS (Práxis), pelo apoio que possibilitou esta formatura: Matheus Cherem, Priscila, P.A., Junior, Isabela, Gabriel, Alysson, Ana Amélia, Sofia Repoles, Sofia Rodrigues, Bruno, Maria, Binha e todos que compõem a atual gestão.

          À memorável Cantina.
         
         À todos da TV UFMG.

         Aos amigos Naiara, Jorge, Todd, Tapas, Jaime e família, Margareth, Eliane.

         Aos amigos do AnimEmotionBH. Por tudo que me ensinaram e compartilharam comigo na esperança que continuemos a conversar, trocar idéias, nos divertir e passar um tempo juntos. Suzan, CarolKawaii, MestreKame, Kari, Amaral, Duo, widner, Rafa-chan, ATM_yUe, Kaxassa, SonicBlade, felinos, luchii, Robô, gordo, Tio (Tanaka, Rozen, Vincent), catymorreu, Borodon, Ruana, Lehefir, Kilikina, vMetalBR, Skald, tikrey, zaen, Xaxin, Zangetsu, Mel, Kenshin, P-chan, Anne, Anasick, hthaaa, Iara, saviorseph, Tsukawaii, Shinta, Priss, Dujour, Choggo, gueropa, dankun, Shark, Chrono, Marcelão, Sano, Tio Holy e todos os que eu provavelmente esqueci, mas sabem que tenho o maior apreço.

       À Marx, Weber e Durkheim.

       Ao Lula, o presidente que tive a oportunidade de acompanhar as mudanças por este país e pela intensa valorização ao ensino superior e ao desenvolvimento da ciência e tecnologia, notavelmente nas ciências sociais.

      Ao CNPq e à FAPEMIG, instituições de fomento a pesquisa, ensino e extensão do ensino superior brasileiro que deram possibilidades para que eu pudesse explorar minhas potencialidades e desenvolver os trabalhos ao longo de toda minha formação.

      À Tolkien, Blind Guardian, Sony e Nintendo.

sábado, junho 19, 2010

O descanso de José Saramago



"Acho que todos nós devemos repensar o que andamos aqui a fazer. Bom é que nos divirtamos, que vamos à praia, à festa, ao futebol, esta vida são dois dias, quem vier atrás que feche a porta ― mas se não nos decidirmos a olhar o mundo gravemente, com olhos severos e avaliadores, o mais certo é termos apenas um dia para viver, o mais certo é deixarmos a porta aberta para um vazio infinito de morte, escuridão e malogro."

Trecho do livro Deste mundo e do outro, do escritor português José Saramago, falecido ontem, na Espanha. Leia também "A visão certa" e "Uma certa inocência". 

quinta-feira, maio 06, 2010

Veja e a farsa do jornalismo oportunista

Pra quem acompanhou a discussão é bem claro o que aconteceu: a Veja publicou uma matéria distorcendo dados, apresentando falsas informações e, pior, caluniando e falsificando declarações de um dos maiores etnólogos brasileiros. Não só o desrespeito, mas a total falta de ética profissional culminou em uma reação de todos que tiveram acesso ao debate. Segue a ordem:

A matéria de Veja: http://veja.abril.com.br/050510/farra-antropologia-oportunista-p-154.shtml

A nota de repúdio de Eduardo Viveiros de Castro (antropólogo - Museu Nacional): http://docs.google.com/View?id=dgnk7jn8_6573h5fcp

A resposta de Veja: http://veja.abril.com.br//noticia/brasil/brasil-todo-mundo-indio-quem-nao-555649.shtml

A tréplica de Viveiros de Castro: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/05/04/direito-de-resposta-a-veja-2/

Uma análise minuciosa das mentiras apresentadas na matéria (Por Rafael Barbi - UFMG): http://faire-savoir.info/2010/05/04/a-farra-do-jornalismo-oportunista/


É notável a insistência da revista em seu reiterado equívoco representando um desrespeito a toda a ética profissional do jornalismo, à sociedade brasileira, ao poder público, à comunidade acadêmica e, especialmente, à pessoa do Prof. Eduardo Viveiros de Castro. Acredito que o mínimo que se desejaria era um direito de resposta em igual proporção e formato na própria revista para, se não reparar, ao menos se retratar publicamente por tão significativo desprezo pela dignidade da opinião pública.



Leôncio Farias
Ciências Sociais - UFMG

segunda-feira, março 15, 2010

O Mestrado


Num lindo dia ensolarado o coelho sai de sua toca com seu laptop e põe-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois passa por ali uma raposa e vê o coelhinho suculento tão distraído com seu trabalho. No entanto ela fica intrigada com o coelho trabalhando tão arduamente.

Então a raposa aproxima-se do coelho e pergunta:

- Coelhinho, o que você está fazendo tão concentrado?

- Estou redigindo a minha tese de mestrado - diz o coelho sem tirar os olhos do laptop.

- Mmm... e qual é o tema da sua tese?

- Ah! é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores de raposas.

A raposa fica indignada:

- Oras! Isso é ridículo! Nós é que somos os predadores dos coelhos!

- Absolutamente! Venha comigo à minha toca e eu te mostro a minha prova experimental.

O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois ouve-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois silêncio. Em seguida o coelho volta, sozinho, e mais uma vez retoma os trabalhos da sua tese como se nada tivesse ocorrido.

Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando tão concentrado. O lobo então resolve saber do que se trata aquilo tudo antes de devorar o coelhinho:

- Olá jovem coelhinho. O que o faz trabalhar tão arduamente?

- Minha tese de mestrado, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há muito e prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos lobos.

O lobo não se contem e farfalha em risos da petulância do coelhinho.

- Ah ah ah ah!! Coelhinho! Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós os lobos é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos, aliás...

- Desculpe-me, mas se você quiser eu posso te apresentar a minha prova experimental. Você gostaria de acompanhar-me à minha toca?

O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois ouvem-se uivos desesperados, agonizantes, ruídos de mastigação e... silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, intacto, e volta ao árduo trabalho de redação da sua tese de mestrado, como se nada tivesse acontecido...

Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensangüentados e pelancas de diversas ex-raposas e, ao lado desta, outra pilha ainda maior de ossos e restos mortais daquilo que um dia foram lobos. Ao centro das duas ilhas de ossos vê-se um enorme Leão, satisfeito, bem alimentado, sonolento, a palitar os dentes.

MORAL DA ESTÓRIA:

Não importa quão absurdo é o seu tema de tese.

Não importa se você não tem o mínimo fundamento cientifico.

Não importa se os seus experimentos nunca provam a sua teoria.

Não importa nem mesmo se as suas idéias vão contra o mais óbvio do bom senso...

O que importa é QUEM É O SEU ORIENTADOR!!!

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

POR QUE O SAPO NÃO LAVA O PÉ?


Olavo de Carvalho: O sapo não lava o pé. Não lava porque não quer. Ele mora lá na lagoa, não lava o pé porque não quer e ainda culpa o sistema, quando a culpa é da PREGUIÇA. Este tipo de atitude é que infesta o Brasil e o Mundo, um tipo de atitude oriundo de uma complexa conspiração moscovita contra a livre-iniciativa e os valores humanos da educação e da higiene!

Karl Marx: A lavagem do pé, enquanto atividade vital do anfíbio, encontra-se profundamente alterada no panorama capitalista. O sapo, obviamente um proletário, tendo que vender sua força de trabalho para um sistema de produção baseado na detenção da propriedade privada pelas classes dominantes, gasta em atividade produtiva alienada o tempo que deveria ter para si próprio. Em conseqüência, a miséria domina os campos, e o sapo não tem acesso à própria lagoa, que em tempos imemoriais fazia parte do sistema comum de produção.

Friedrich Engels: isso mesmo.

Michael Foucault: Em primeiro lugar, creio que deveríamos começar a análise do poder a partir de suas extremidades menos visíveis, a partir dos discursos médicos de saúde, por exemplo. Por que deveria o sapo lavar o pé? Se analisarmos os hábitos higiênicos e sanitários da Europa no século XII, veremos que os sapos possuíam uma menor preocupação em relação à higiene do pé – bem como de outras áreas do corpo. Somente com a preocupação burguesa em relação às disciplinas – domesticação do corpo do indivíduo, sem a qual o sistema capitalista jamais seria possível – é que surge a preocupação com a lavagem do pé. Portanto, temos o discurso da lavagem do pé como sinal sintomático da sociedade disciplinar.

Max Weber: A conduta do sapo só poderá ser compreendida em termos de ação social racional orientada por valores. A crescente racionalização e o desencantamento do mundo provocaram, no pensamento ocidental, uma preocupação excessiva na orientação racional com relação a fins. Eis que, portanto, parece absurdo à maior parte das pessoas o sapo não lavar o pé. Entretanto, é fundamental que seja compreendido que, se o sapo não lava o pé, é porque tal atitude encontra-se perfeitamente coerente com seu sistema valorativo – a vida na lagoa.

Friedrich Nietzsche: Um espírito astucioso e camuflado, um gosto anfíbio pela dissimulação - herança de povos mediterrâneos, certamente - uma incisividade de espírito ainda não encontrada nas mais ermas redondezas de quaisquer lagoas do mundo dito civilizado. Um animal que, livrando-se de qualquer metafísica, e que, aprimorando seu instinto de realidade, com a dolcezza audaciosa já perdida pelo europeu moderno, nega o ato supremo, o ato cuja negação configura a mais nítida – e difícil – fronteira entre o Sapo e aquele que está por vir, o Além- do-Sapo: a lavagem do pé.

John Locke: Em primeiro lugar, faz-se mister refutar a tese de Filmer sobre a lavagem bíblica dos pés. Se fosse assim, eu próprio seria obrigado a lavar meus pés na lagoa, o que, sustento, não é o caso. Cada súdito contrata com o Soberano para proteger sua propriedade, e entendo contido nesse ideal o conceito de liberdade. Se o sapo não quer lavar o pé, o Soberano não pode obrigá-lo, tampouco recriminá-lo pelo chulé. E ainda afirmo: caso o Soberano queira, incorrendo em erro, obrigá-lo, o sapo possuirá legítimo direito de resistência contra esta reconhecida injustiça e opressãO.

Immanuel Kant: O sapo age moralmente, pois, ao deixar de lavar seu pé, nada faz além de agir segundo sua lei moral universal apriorística, que prescreve atitudes consoantes com o que o sujeito cognoscente possa querer que se torne uma ação universal.

Nota de Freud: Kant jamais lavou seus pés.

Sigmund Freud: Um superego exacerbado pode ser a causa da falta de higiene do sapo. Quando analisava o caso de Dora, há vinte anos, pude perceber alguns dos traços deste problema. De fato, em meus numerosos estudos posteriores, pude constatar que a aversão pela limpeza, do mesmo modo que a obsessão por ela, podem constituir-se num desejo de autopunição. A causa disso encontra-se, sem dúvida, na construção do superego a partir das figuras perdidas dos pais, que antes representavam a fonte de todo conteúdo moral do girino.

Carl Jung: O mito do sapo do deserto, presente no imaginário semita, vem a calhar para a compreensão do fenômeno. O inconsciente coletivo do sapo, em outras épocas desenvolvido, guardou em sua composição mais íntima a idéia da seca, da privação, da necessidade. Por isso, mesmo quando colocado frente a uma lagoa, em época de abundância, o sapo não lava o pé.

Soren Kierkegaard: O sapo lavando o pé ou não, o que importa é a existência.

George Hegel: podemos observar na lavagem do pé a manifestação da Dialética. Observando a História, constatamos uma evolução gradativa da ignorância absoluta do sapo – em relação à higiene – para uma preocupação maior em relação a esta. Ao longo da evolução do Espírito da História, vemos os sapos se aproximando cada vez mais das lagoas, cada vez mais comprando esponjas e sabões. O que falta agora é, tão somente, lavar o pé, coisa que, quando concluída, representará o fim da História e o ápice do progresso.

Auguste Comte: O sapo deve lavar o pé, posto que a higiene é imprescindível. A lavagem do pé deve ser submetida a procedimentos científicos universal e atemporalmente válidos. Só assim poder-se-á obter um conhecimento verdadeiro a respeito.

Arthur Schopenhauer: O sapo cujo pé vejo lavar é nada mais que uma representação, um fenômeno, oriundo da ilusão fundamental que é o meu princípio de razão, parte componente do principio individuationis, a que a sabedoria vedanta chamou "véu de Maya". A Vontade, que o velho e grande filósofo de Königsberg chamou de Coisa-em si, e que Platão localizava no mundo das idéias, essa força cega que está por trás de qualquer fenômeno, jamais poderá ser capturada por nós, seres individuados, através do princípio da razão, conforme já demonstrado por mim em uma série de trabalhos, entre os quais o que considero o maior livro de filosofia já escrito no passado, no presente e no futuro: "O mundo como vontade e representação".

Aristóteles. O [sapo] lava de acordo com sua natureza! Se imitasse, estaria fazendo arte . Como [a arte] é digna somente do homem, é forçoso reconhecer que o sapo lava segundo sua natureza de sapo, passando da potência ao ato. O sapo que não lava o pé é o ser que não consegue realizar [essa] transição da potência ao ato.


Platão:

Górgias: Por Zeus, Sócrates, os sapos não lavam os seus pés porque não gostam da água!
Sócrates: Pensemos um pouco, ó Górgias. Tu assumiste, quando há pouco dialogava com Filebo, que o sapo é um ser vivo, correto?
Górgias: Sou forçado a admitir que sim.
Sócrates: Pois bem, e se o sapo é um ser vivo, deve forçosamente fazer parte de uma categoria determinada de seres vivos, posto que estes dividem-se em categorias segundo seu modo de vida e sua forma corporal; os cavalos são diferentes das hidras e estas dos falcões, e assim por diante, correto?
Górgias: Sim, tu estás novamente correto.
Sócrates: A característica dos sapos é a de ser habitante da água e da terra, pois é isso que os antigos queriam dizer quando afirmaram que este animal era anfíbio, como, aliás, Homero e Hesíodo já nos atestam. Tu pensas que seria possível um sapo viver somente no deserto, tendo ele necessidade de duas vidas por natureza,ó Górgias?
Górgias: Jamais ouvi qualquer notícia a respeito.
Sócrates: Pois isto se dá porque os sapos vivem nas lagoas, nos lagos e nas poças, vistos que são animais, pertencem e uma categoria, e esta categoria é dada segundo a característica dos sapos serem anfíbios.
Górgias: É verdade.
Sócrates: precisando da lagoa, ó Górgias meu caro, tu achas que seria o sapo insano o suficiente para não gostar de água?
Górgias: não, não, não, mil vezes não, Ó Sócrates!
Sócrates: Então somos forçados a concluir que o sapo não lava o pé por outro motivo, que não a repulsa à água
Górgias: de acordo

Diógenes, o Cínico: Dane-se o sapo, eu só quero tomar meu sol.

Parmênides de Eléia: Como poderia o sapo lavar os pés, ó deuses, se o movimento não existe?

Heráclito de Éfeso: Quando o sapo lava o pé, nem ele nem o pé são mais os mesmos, pois ambos se modificam na lavagem, devido à impermanência das coisas.

Epicuro: O sapo deve alcançar o prazer, que é o Bem supremo, mas sem excessos. Que lave ou não o pé, decida-se de acordo com a circunstância. O vital é que mantenha a serenidade de espírito e fuja da dor.

Estóicos: O sapo deve lavar seu pé de acordo com as estações do ano. No inverno, mantenha-o sujo, que é de acordo com a natureza. No verão, lave-o delicadamente à beira das fontes, mas sem exageros. E que pare de comer tantas moscas, a comida só serve para o sustento do corpo.

Descartes: nada distingo na lavagem do pé senão figura, movimento e extensão. O sapo é nada mais que um autômato, um mecanismo. Deve lavar seus pés para promover a autoconservação, como um relógio precisa de corda.

Nicolau Maquiavel: A lavagem do pé deve ser exigida sem rigor excessivo, o que poderia causar ódio ao Príncipe, mas com força tal que traga a este o respeito e o temor dos súditos. Luís da França, ao imperar na Itália, atraído pela ambição dos venezianos, mal agiu ao exigir que os sapos da Lombardia tivessem os pés cortados e os lagos tomados caso não aquiescessem à sua vontade. Como se vê, pagou integralmente o preço de tal crueldade, pois os sapos esquecem mais facilmente um pai assassinado que um pé cortado e uma lagoa confiscada.

Jacques Rousseau: Os sapos nascem livres, mas em toda parte coaxam agrilhoados; são presos, é certo, pela própria ganância dos seus semelhantes, que impedem uns aos outros de lavarem os pés à beira da lagoa. Somente com a alienação de cada qual de seu ramo ou touceira de capim, e mesmo de sua própria pessoa, poder-se-á firmar um contrato justo, no qual a liberdade do estado de natureza é substituída pela liberdade civil.

Max Horkheimer e Theoror Adorno: A cultura popular diferencia-se da cultura de massas, filha bastarda da indústria cultural. Para a primeira, a lavagem do pé é algo ritual e sazonal, inerente ao grupamento societário; para a segunda, a ação impetuosa da razão instrumental, em sua irracionalidade galopante, transforma em mercadoria e modismo a lavagem do pé, exterminando antigas tradições e obrigando os sapos a um procedimento diário de higienização.

Antonio Gramsci: O sapo, e além dele, todos os sapos, só poderão lavar seus pés a partir do momento em que, devido à ação dos intelectuais orgânicos, uma consciência coletiva principiar a se desenvolver gradativamente na classe batráquia. Consciência de sua importância e função social no modo de produção da vida. Com a guerra de posições - representada pela progressiva formação, através do aparato ideológico da sociedade civil, de consensos favoráveis – serão criadas possibilidades para uma nova hegemonia, dessa vez sob a direção das classes anteriormente subordinadas.

Norberto Bobbio: existem três tipos de teoria sobre o sapo não lavar o pé. O primeiro tipo aceita a não-lavagem do pé como natural, nada existindo a reprovar nesse ato. O segundo tipo acredita que ela seja moral ou axiologicamente errada. A terceira espécie limita-se a descrever o fenômeno, procurando uma certa neutralidade.

Liberal de Orkut (esse indivíduo cada vez mais anônimo): o sapo não lava o pé por ser um indivíduo liberto da opressão estatal. Mas qualquer coisa é só arrumar um emprego público e utilizar o lavado do Leviatã!

Postado por São Paulo Chove às 05:15
http://saopaulochove.blogspot.com/2010/01/por-que-o-sapo-nao-lava-o-pe.html
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